terça-feira, 19 de dezembro de 2006

O Fato e a Ótica

Como interpretar um fato? Ou que olhar se encarregará de observá-lo e interpretá-lo fidedignamente?
Vários são os olhares com que podemos perceber ou relatar um acontecimento, cada olhar possui uma visão, particular, circunstancial, consensual ou não do ocorrido, supõe-se que isto resultará em narrativas diferenciadas acrescidas ou desprovidas de informações inerentes ao fato.
Para exemplificação utilizaremos, uma ocorrência atual. Sugere-se que a mesma auxiliará na projeção do acontecido, segundo a ótica de algumas correntes de pensamento. Observe-se, portanto que o fato objeto deste relato, permeou e ainda permeia os noticiários de nosso país, constituindo-se num episódio de grande relevância sócio-econômica, sem, contudo deixar de citar seu cunho político-moral. Entretanto note-se ainda que as projeções aqui construídas fazem parte do imaginário do autor deste “despretensioso”, porém reflexivo texto.
Vamos ao ocorrido: o ano de 2005 foi marcado por um escândalo político de dimensão “hollywoodiana”, que já causou a queda de ministros e secretários do atual governo do Brasil, bem como provocou a cassação e a renúncia dos direitos políticos de alguns parlamentares. As acusações vão desde a falta de decoro parlamentar à corrupção (ativa e/ou passiva), estas foram e são conhecidas pelo famigerado epíteto de “MENSALÃO”.
O olhar atento de um homem da ciência, acostumado a observar minuciosamente o comportamento de alguns animais nocivos, identificados como: Rattus norvegicus (ratazana, Gabiru); Mus musculus (Camundongo) e Rattus rattus (rato comum, rato preto, etc.), logo chegaria a conclusão que o procedimento de alguns “humanos” nocivos se assemelham aos roedores supra citados, sem contudo deixar de observar o fato de os ratos são por natureza “ratos”. Estes indivíduos também são conhecidos entre outros, pela alcunha de ministros, parlamentares e altos funcionários da nação.
De acordo com os fatos observados, mediante exame acurado da atuação dos mesmos, chegou-se às seguintes conclusões: A maioria dos analisados está gravemente infectada pelo vírus da corrupção crônica, pois de acordo com a sintomatologia observada dão claros sinais que estão em fase terminal, sem evidências de recuperação, deduz-se que os mesmos estão profundamente envolvidos e basicamente comprometidos com o fomento da desonestidade.
Sugerem-se como medidas sanativas e profiláticas, a remoção total e drástica, de todo e qualquer indivíduo cujos indícios manifeste a moléstia, prescreve-se também manter sob observação severa e sistemática, os que porventura ainda não apresentaram os sintomas, estas providências são imperativas, pois se trata de mal crônico e tende reaparecer mais resistente, bem como poderá ressurgir apresentando mutações polimórficas.
A “filosofia” trataria o acontecido assim: Cogito, ergo sum: “Penso, logo existo”. Disse certa vez René Descartes, um dos maiores filósofos do século XVII. O momento político atual traz em seu cerne uma urgente reflexão: em que dimensão existo? O que penso, faz com que eu realmente exista?
Considerando o vergonhoso espetáculo que nós com perplexidade somos obrigados a presenciar, chegamos à conclusão que boa parte dos homens públicos realmente perderam de vez o senso de justiça, respeito e honestidade, a honradez se configurou em um sentimento obsoleto. A classe que deveria por dever, ser a guardiã das colunas do caráter, deixam um rastro fétido de desmoralização, e com a empáfia pretensiosa do dever cumprido nos apresentam como “arautos” e “deferentes protetores” do povo.
Será que estes que se julgam possuidores vitalícios da nossa confiança, sabem da nossa existência? Sabem por acaso o que nós pensamos? Somos sim, seus verdadeiros fiadores. Nossa existência se dá por ocasião dos sufrágios que depositamos nas urnas em ocasiões eletivas, que logo exprimem nosso pensamento, o resultado, é o ápice do nosso julgamento. Se existimos, embora pareça para “eles” que não, se pensamos, o que de certa forma transpareça que “eles” não acreditem, por que será que os mesmos ainda estão “deitados em berço esplêndido” a nossas custas? Sorriem e saltitam em passos dançantes sobre nossos queixos caídos, com a certeza de que nas próximas eleições, estarão com os seus cofres ainda mais abarrotados e alimentando-se do sangue e do suor de milhares de pessoas que ainda não descobriram que existem e pensam.
Pensar, logo existir, não terá o ínfimo valor, se não houver ação, precisamos refletir, julgar e agir. A nossa existência só será realmente sentida se nossos sufrágios fizerem a diferença, desferindo um golpe certeiro e mortal na fronte da corrupção, na pessoa de cada político de caráter duvidoso e observar minuciosamente os outros que por acaso remanescerem da devassa moral do nosso pensamento e, por conseguinte da nossa existência.
O “senso comum” assim descreveria o fatídico evento - Mensalão!? Isso é velho, não é nenhuma novidade, pois dizem por aí que antigamente o Brasil, já foi escravo de Portugal, teve rainha e depois rei, que mandava e desmandava por aqui, mas o que imperava mesmo eram as falcatruas. Daí, o Brasil virou república. Primeiro governaram os coronéis, depois veio o Estado Novo, a Terceira república, uma tal de Ditadura Militar e o que tinham em comum era o fato de que em todas essas fases não faltavam, tramóias, fraudes, rapinagem e muita roubalheira.
Findou-se a era da Ditadura Militar, dando lugar a um governo civil escolhido indiretamente, que com ares poéticos apelava para o apoio de “brasileiros e brasileiras”, a inflação passeava a largos galopes, mas galopante mesmo, era a depravação, que se explicitava na vida pública de vários políticos. Com as “diretas já”, elegeram um caçador de “marajá” e a nova republica nasceu corrompida. Em meio a estórias mal contadas, o caçador foi cassado.
O Real elegeu um governante sociólogo, “socialista” das elites que vendeu o patrimônio público, e em seu governo não faltaram as falcatruas. Atualmente um operário é o nosso presidente, trouxe doses paliativas de esperança e nada mudou. A maioria dos nossos políticos continua corrupta e corrompida, entretanto, se nós persistirmos em aprová-los, continuarão nas trilhas da devastadora corrupção e tudo continuará como está.
Um “artista popular” assim se expressaria:
Seu dotô mi adiscurpe o atrivimento, de me achegá ao seu istabilicimento, pru mode derramá o meu coração.
Na vida já passei fome e sufrimento, pru favo dotô iscute só o meu lamento, já num agüento mais de tanta disilusão.
Seu dotô já mi falta o intindimento, pru qui é qui nus falta o alimento? E lá em Brasília sobra mensalão.
Óia seu dotô antis qui caia no isquicimento,Vou contar minha vergonha e meu turmento, é qui, os políticu qui eu votei, é tudo ladrão.
Que as declarações acima sejam consideradas conjecturas, porém representam genuína insatisfação e profunda indignação com o atual quadro político nacional, tome-se sob qualquer ótica, como um desabafo de um brasileiro que não tem mais em quem confiar. Apela-se para que todos possam bradar uníssonos, CHEGA DE CORRUPÇÃO.